BLS 2015 para mortais

As novas recomendações da American Heart Association saíram semana passada e preparamos um resumo comentado bem direto ao ponto sobre os principais itens!

Nesse post falaremos sobre as recomendações a respeito do BLS – Basic Life Support – ou SBV – Suporte Básico de Vida. Tanto para leigos, quanto, principalmente para profissionais de saúde, o BLS já foi provado inúmeras vezes que salva vidas.  Fizemos um resuminho com os principais itens das novas Guidelines, aproveitando para relembrar os conceitos consagrados do BLS, o que sempre é útil. Estudos têm demonstrado que é importante estar sempre voltando a conceitos básicos, pois o conhecimento e as habilidades se vão com o tempo. Por outro lado, estudantes de medicina muitas vezes não recebem esse treinamento importantíssimo na grade curricular de suas faculdades (se lá fora isso foi provado, imagina aqui no Brasil…). Precisamos estar sempre atualizados para garantir o melhor atendimento possível aos nossos pacientes! Vamos então aos principais pontos do BLS 2015:

  • Desfibriladores Externos Automáticos (DEA) de Acesso e Uso Público

O guia de BLS – Basic Life Support – para adultos colocou uma recomendação forte a respeito da necessidade de Desfibriladores Externos Automáticos em lugares de grande circulação de pessoas: Metrôs, Shoppings, Aeroportos, Rodoviárias, Praças, ect. Além disso, eles preconizam uma integração direta do sistema dos DEAs com o acionamento direto de uma equipe pré-hospitalar, que seria o nosso SAMU192. Por que isso? Ora bolas, porque os últimos estudos demonstraram que existe uma clara evidência de aumento de sobrevivência de uma parada cardiorrespiratória (PCR) fora dos hospitais, quando transeuntes, pessoas normais, leigos, iniciaram rapidamente a Massagem Cardíaca e realizaram a desfibrilação por meio do DEA. A pergunta que fica é se isso algum dia será a realidade em terras canarinhas. Temos alguns poucos DEAs em alguns aeroportos. Só alguns. Mas já é um começo. Vamos torcer e pressionar para que essa realidade mude.

  • Identificação do Regulador na Central de Respiração em Peixe Fora D’água

Para ajudar os leigos a identificarem um ataque cardíaco, os reguladores das centrais de emergência, nossos amigos telefonistas do SAMU192, precisam perguntar sobre o grau de responsividade da vítima e também sobre respirações. Se as respirações estão anormais e a vítima está sem resposta à estímulos, desacordada, os telefonistas precisam assumir que a vítima está em PCR e enviar uma equipe de socorristas profissionais o mais rápido possível, de preferência, capazes de realizar manobras avançadas de reanimação. Além disso, eles precisam instruir ao contactante sobre como iniciar a massagem cardíaca na vítima. Estudos demonstraram que quando mais cedo iniciarem as compressões, melhor a sobrevida das vítimas de PCR.

  • ÊNFASE NA MASSAGEM

Colocamos em letras garrafais e negrito porque é necessário dar ênfase a esse tema. Qualquer pessoa, seja ela profissional da saúde ou leigo, precisa iniciar as manobras de massagem cardíaca na vítima, assim que a mesma for identificada como em PCR. Desde 2010 já existe uma ênfase grande apenas com compressões, apenas na massagem, pois estudos demonstraram que a sobrevivência de adultos em PCR que receberam apenas massagem e pessoas que receberam massagem + respirações foi similar. Além disso, diminuiria o risco de exposição a fluidos corporais,  diminuindo-se a resistência dos leigos em ajudarem instantaneamente a vítima. As compressões devem ser iniciadas em uma razão de 30:2. 30 massagens e 2 respirações, se o socorrista/leigo estiver ou se sentir apto a realizar as respirações. A massagem por leigos deve continuar até que a vítima acorde e comece a se mover ou até a chegada da equipe do SAMU ou do Desfibrilador Automático Externo, onde se deve deixar o equipamento trabalhar para analisar o ritmo e indicar ou não o choque.

  • Ritmo das Compressões

A guideline de 2010 preconizava o: “Aperte forte e aperte rápido”, no mínimo de 100 massagens por minuto. O que se sabia é que quanto mais massagens por minuto, melhor a sobrevivência da vítima e melhores os resultados neurológicos. Menos compressões, piores os resultados finais. Pois bem, isso mudou. Como a Medicina é ma ciência viva, novos estudos foram surgindo e, em 2015, a recomendação é que os socorristas devem massagear a um ritmo de 100 a 120 compressões por minuto. Dados preliminares têm sugerido que um ritmo muito elevado ou uma força muito grande pode afetar os desfechos de forma negativa. Tá aí portanto, uma das principais mudanças. Massageie de 100 a 120 vezes por minuto. Isso dá mais ou menos o ritmo da clássica música do BeeGees “Stayin’ Alive”

Mas como nem todo mundo nasceu nessa época, se você está querendo atualizar seu repertório musical, segue algo mais anos 2000.

Tem algum clássico nacional que passa pela sua mente no momento da massagem? Mande para nós!

  • Profundidade das Compressões

“Apertar forte” continua mantido. O que mudou são os limites máximos de pressão que deve-se realizar. Durante a massagem, deve-se afundar o esterno entre 5-6cm, evitando assim uma profundidade muito excessiva, o que um estudo sugere ser prejudicial no que se diz respeito à complicações não letais. A velha história de costelas quebradas. Você preferiria estar morto e com as costelas intactas ou vivo e com algumas quebradas? Então pronto. Ainda assim, o mais importante é apertar forte, pois grande parte dos leigos e até mesmo profissionais de saúde não conseguem realizar a força necessária para a massagem efetiva.

  • Recuo do Tórax

É razoável que os socorristas não fiquem apoiados em cima do peito do paciente durante a massagem para permitir que haja o retorno do tórax à posição normal.  Isso continua desde 2010. E é uma questão de fisiologia e bom-senso simples. Permitindo o retorno do tórax, do esterno, à sua posição normal, cria-se uma pressão negativa dentro do tórax que permite o retorno venoso, enchendo as câmeras cardíacas para a circulação. Não adianta nada ficar massageando um coração vazio.

  • MINIMIZANDO INTERRUPÇÕES DURANTE A MASSAGEM

É mais uma das nossas letras garrafais e negrito, pois é algo que ainda não é muito difundido nem frequente aqui em nosso meio canarinho. Precisa-se sempre maximizar o número de compressões por minuto e evitar ao máximo o delay, as interrupções entre a aplicação de massagem. Isso significa: durante o transporte, massagem. A maca chegou com a vítima parada? Continuando massagem até chegada na sala de emergência. Massagem o tempo todo. A novidade de 2015 é o estabelecimento de uma proporção de no mínimo 60%. Como é feita essa proporção? Tempo de  massagem sobre tempo total das manobras de reanimação. Isso tudo foi elaborado para limitar as interrupções que são muito danosas em termos de sobrevivência e sequelas neurológicas.

  • Choque Primeiro ou Massagem Primeiro??

Para PCR não assistida de adultos, onde um DEA está imediatamente disponível, é razoável utilizar o desfibrilador logo. Onde um DEA não está disponível, nosso caso, infelizmente, é importante massagem mais precoce. Chegou o desfibrilador? Analisar o ritmo e desfibrilar, se indicado. Estudos demonstraram que não existem diferenças significativas de desfechos entre massagear primeiro por um ciclo e depois desfibrilar ou desfibrilar assim que o DEA estiver disponível.

Ficou com alguma dúvida? Não gostou das novas guidelines sobre BLS? Curtiu? Discuta aqui conosco no TraumaOne!

Fonte: AHA 2015. Highlights of the 2015 American Heart Association Guidelines Update for CPR and ECC. https://eccguidelines.heart.org/index.php/circulation/cpr-ecc-guidelines-2/


Esse post inaugurou a sessão para mortais do TraumaOne que, seguindo os preceitos FOAM, tem por objetivo discutir temas complexos da Medicina de Emergência e do Trauma de uma maneira simples, acessível e que, se possível, entretenha o leitor. Afinal somos todos meros mortais no dia-a-dia. De um mortal para outro, facilitando o entendimento, divulgando o conhecimento.

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