Ketamina é Remédio!

Ketamina ou Cetamina é remédio! Essa é a campanha liderada pela WFSA – World Federation of Societies of Anaesthesiologists (Federação Mundial das Sociedades de Anestesiologistas) em virtude das recentes ameaças que estão surgindo sobre o status e a classificação da Ketamina.

A comissão da ONU em Narcóticos e Drogas (CND) se reunirá agora em dezembro de 2015 e março de 2016 para a votar sobre o “enquadramento” do medicamento no grupo de drogas psicotrópicas, iniciando processos de proibição e limitação de comercialização em âmbito global. Além disso, haverá uma outra assembleia especial da ONU sobre o problema mundial das drogas (UNGASS) em abril de 2016 que discutirá a classificação da Ketamina, impactando diretamente nesse processo.

Muitos advogam que a Ketamina é uma droga que causa abuso, dependência e dano. Ela tem usos abusivos documentados desde os anos 80 e tem sido incluída em muitas enquetes como de uso recreacional. Em 2014 uma pesquisa da Global Drug Survey em vários países, demonstrou que, de uma lista de 20 drogas ilícitas, o uso da Ketamina ocupava apenas a 16ª posição. Contudo, em diversas nações entrevistadas ela nem sequer entrava na lista. Somente um número muito pequeno de casos foram relatados na literatura sobre dependência à droga, estudos esses que foram examinados pelo comitê expert de drogas e dependência (ECDD) da World Health Organization – WHO . O ECDD examinou a Ketamina 3 vezes, em 2006, 2012 e 2014 e sempre foi contra colocar a Ketamina sobre restrição, pois concluíram que seu abuso não causava danos suficientes em termos de saúde pública.

A Ketamina é um remédio essencial. Em muitos países do mundo, principalmente nos mais pobres, ela é o único anestésico disponível. Sua versatilidade e capacidade de uso sem necessidade de monitorização, oxigênio, eletricidade e treinamento muito especializado a transformam em uma droga fundamental em regiões de conflito, desastres, em países extremamente pobres ou hospitais muito precários. Já foi provado que a Ketamina não provoca depressão respiratória nem causa diminuição da pressão sanguínea, sendo intensamente segura em pacientes vítimas de trauma e choque hipovolêmico ou pacientes em choque séptico.

Uma pesquisa recente demonstrou que a Ketamina está disponível em 70% dos países de baixa e média renda (PBMR), sendo mais acessível que qualquer outro anestésico ou equipamento.

Desde 1985 a Ketamina está na lista dos medicamentos essenciais da WHO. Desde 2010 faz parte dos “International Standards for Safe Practise in Anaesthesia” e ela é o anestésico de escolha para grandes cirurgias nos manuais de Cirurgia de Guerra do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (IRCC).

O que essa restrição da ONU significaria? Significaria que apenas hospitais governamentais poderiam importar o medicamento, o que se traduz na perda ao acesso a esse remédio por parte de um grande número de profissionais e estabelecimentos em PBMR.  E os limitados centros que poderiam acessar a Ketamina teriam seus próprios problemas em manter os registros sobre o uso dessas drogas “enquadradas”.

Caso semelhante aconteceu com a Morfina na Índia, após ela ser “enquadrada”. Os profissionais começaram a ficar preocupados com as possíveis repercussões legais do uso da Morfina e simplesmente pararam de prescrevê-la, com seu uso caindo cerca de 97%. Com isso, a produção de morfina diminuiu muito, e, hoje, há uma certa falta mundial de morfina. Como não existe alternativa segura à Ketamina, não podemos deixar isso acontecer!

#KetamineisMedicine é a hashtag do movimento! Quanto mais vozes se juntarem e demonstrarem que a Ketamina é um remédio imprescindível maior a pressão sobre a tentativa de classificação da Ketamina! Ajude conversando com colegas, deixando seu depoimento no site e espalhando a verdade sobre o uso da Ketamina!

Para maiores informações, materiais de campanha, como ajudar o movimento, acesse o site da WFSA: http://www.wfsahq.org/ketamine

Fatos nus e crus:

  • Menos de 15% dos anestesistas trabalham em PBMR
  • 2 bilhões de pessoas em áreas rurais de PBMR já não tem acesso a remédios básicos.
  • 70% dos hospitais em PBMR tinha acesso a Ketamina. Acesso a oxigênio estava presente em apenas 48% deles.

 

Porque anestesia segura salva vidas!

Ketamina é Remédio!

 

Fonte: WFSA, Ketamine is Medicine campaign

 

BLS 2015 para mortais

As novas recomendações da American Heart Association saíram semana passada e preparamos um resumo comentado bem direto ao ponto sobre os principais itens!

Nesse post falaremos sobre as recomendações a respeito do BLS – Basic Life Support – ou SBV – Suporte Básico de Vida. Tanto para leigos, quanto, principalmente para profissionais de saúde, o BLS já foi provado inúmeras vezes que salva vidas.  Fizemos um resuminho com os principais itens das novas Guidelines, aproveitando para relembrar os conceitos consagrados do BLS, o que sempre é útil. Estudos têm demonstrado que é importante estar sempre voltando a conceitos básicos, pois o conhecimento e as habilidades se vão com o tempo. Por outro lado, estudantes de medicina muitas vezes não recebem esse treinamento importantíssimo na grade curricular de suas faculdades (se lá fora isso foi provado, imagina aqui no Brasil…). Precisamos estar sempre atualizados para garantir o melhor atendimento possível aos nossos pacientes! Vamos então aos principais pontos do BLS 2015:

  • Desfibriladores Externos Automáticos (DEA) de Acesso e Uso Público

O guia de BLS – Basic Life Support – para adultos colocou uma recomendação forte a respeito da necessidade de Desfibriladores Externos Automáticos em lugares de grande circulação de pessoas: Metrôs, Shoppings, Aeroportos, Rodoviárias, Praças, ect. Além disso, eles preconizam uma integração direta do sistema dos DEAs com o acionamento direto de uma equipe pré-hospitalar, que seria o nosso SAMU192. Por que isso? Ora bolas, porque os últimos estudos demonstraram que existe uma clara evidência de aumento de sobrevivência de uma parada cardiorrespiratória (PCR) fora dos hospitais, quando transeuntes, pessoas normais, leigos, iniciaram rapidamente a Massagem Cardíaca e realizaram a desfibrilação por meio do DEA. A pergunta que fica é se isso algum dia será a realidade em terras canarinhas. Temos alguns poucos DEAs em alguns aeroportos. Só alguns. Mas já é um começo. Vamos torcer e pressionar para que essa realidade mude.

  • Identificação do Regulador na Central de Respiração em Peixe Fora D’água

Para ajudar os leigos a identificarem um ataque cardíaco, os reguladores das centrais de emergência, nossos amigos telefonistas do SAMU192, precisam perguntar sobre o grau de responsividade da vítima e também sobre respirações. Se as respirações estão anormais e a vítima está sem resposta à estímulos, desacordada, os telefonistas precisam assumir que a vítima está em PCR e enviar uma equipe de socorristas profissionais o mais rápido possível, de preferência, capazes de realizar manobras avançadas de reanimação. Além disso, eles precisam instruir ao contactante sobre como iniciar a massagem cardíaca na vítima. Estudos demonstraram que quando mais cedo iniciarem as compressões, melhor a sobrevida das vítimas de PCR.

  • ÊNFASE NA MASSAGEM

Colocamos em letras garrafais e negrito porque é necessário dar ênfase a esse tema. Qualquer pessoa, seja ela profissional da saúde ou leigo, precisa iniciar as manobras de massagem cardíaca na vítima, assim que a mesma for identificada como em PCR. Desde 2010 já existe uma ênfase grande apenas com compressões, apenas na massagem, pois estudos demonstraram que a sobrevivência de adultos em PCR que receberam apenas massagem e pessoas que receberam massagem + respirações foi similar. Além disso, diminuiria o risco de exposição a fluidos corporais,  diminuindo-se a resistência dos leigos em ajudarem instantaneamente a vítima. As compressões devem ser iniciadas em uma razão de 30:2. 30 massagens e 2 respirações, se o socorrista/leigo estiver ou se sentir apto a realizar as respirações. A massagem por leigos deve continuar até que a vítima acorde e comece a se mover ou até a chegada da equipe do SAMU ou do Desfibrilador Automático Externo, onde se deve deixar o equipamento trabalhar para analisar o ritmo e indicar ou não o choque.

  • Ritmo das Compressões

A guideline de 2010 preconizava o: “Aperte forte e aperte rápido”, no mínimo de 100 massagens por minuto. O que se sabia é que quanto mais massagens por minuto, melhor a sobrevivência da vítima e melhores os resultados neurológicos. Menos compressões, piores os resultados finais. Pois bem, isso mudou. Como a Medicina é ma ciência viva, novos estudos foram surgindo e, em 2015, a recomendação é que os socorristas devem massagear a um ritmo de 100 a 120 compressões por minuto. Dados preliminares têm sugerido que um ritmo muito elevado ou uma força muito grande pode afetar os desfechos de forma negativa. Tá aí portanto, uma das principais mudanças. Massageie de 100 a 120 vezes por minuto. Isso dá mais ou menos o ritmo da clássica música do BeeGees “Stayin’ Alive”

Mas como nem todo mundo nasceu nessa época, se você está querendo atualizar seu repertório musical, segue algo mais anos 2000.

Tem algum clássico nacional que passa pela sua mente no momento da massagem? Mande para nós!

  • Profundidade das Compressões

“Apertar forte” continua mantido. O que mudou são os limites máximos de pressão que deve-se realizar. Durante a massagem, deve-se afundar o esterno entre 5-6cm, evitando assim uma profundidade muito excessiva, o que um estudo sugere ser prejudicial no que se diz respeito à complicações não letais. A velha história de costelas quebradas. Você preferiria estar morto e com as costelas intactas ou vivo e com algumas quebradas? Então pronto. Ainda assim, o mais importante é apertar forte, pois grande parte dos leigos e até mesmo profissionais de saúde não conseguem realizar a força necessária para a massagem efetiva.

  • Recuo do Tórax

É razoável que os socorristas não fiquem apoiados em cima do peito do paciente durante a massagem para permitir que haja o retorno do tórax à posição normal.  Isso continua desde 2010. E é uma questão de fisiologia e bom-senso simples. Permitindo o retorno do tórax, do esterno, à sua posição normal, cria-se uma pressão negativa dentro do tórax que permite o retorno venoso, enchendo as câmeras cardíacas para a circulação. Não adianta nada ficar massageando um coração vazio.

  • MINIMIZANDO INTERRUPÇÕES DURANTE A MASSAGEM

É mais uma das nossas letras garrafais e negrito, pois é algo que ainda não é muito difundido nem frequente aqui em nosso meio canarinho. Precisa-se sempre maximizar o número de compressões por minuto e evitar ao máximo o delay, as interrupções entre a aplicação de massagem. Isso significa: durante o transporte, massagem. A maca chegou com a vítima parada? Continuando massagem até chegada na sala de emergência. Massagem o tempo todo. A novidade de 2015 é o estabelecimento de uma proporção de no mínimo 60%. Como é feita essa proporção? Tempo de  massagem sobre tempo total das manobras de reanimação. Isso tudo foi elaborado para limitar as interrupções que são muito danosas em termos de sobrevivência e sequelas neurológicas.

  • Choque Primeiro ou Massagem Primeiro??

Para PCR não assistida de adultos, onde um DEA está imediatamente disponível, é razoável utilizar o desfibrilador logo. Onde um DEA não está disponível, nosso caso, infelizmente, é importante massagem mais precoce. Chegou o desfibrilador? Analisar o ritmo e desfibrilar, se indicado. Estudos demonstraram que não existem diferenças significativas de desfechos entre massagear primeiro por um ciclo e depois desfibrilar ou desfibrilar assim que o DEA estiver disponível.

Ficou com alguma dúvida? Não gostou das novas guidelines sobre BLS? Curtiu? Discuta aqui conosco no TraumaOne!

Fonte: AHA 2015. Highlights of the 2015 American Heart Association Guidelines Update for CPR and ECC. https://eccguidelines.heart.org/index.php/circulation/cpr-ecc-guidelines-2/


Esse post inaugurou a sessão para mortais do TraumaOne que, seguindo os preceitos FOAM, tem por objetivo discutir temas complexos da Medicina de Emergência e do Trauma de uma maneira simples, acessível e que, se possível, entretenha o leitor. Afinal somos todos meros mortais no dia-a-dia. De um mortal para outro, facilitando o entendimento, divulgando o conhecimento.

Um pequeno passo…

Existem surpresas nessa vida, fatos que nos fazem manter um pouco de fé no país e, principalmente, nos serviços de comunicação.

A reportagem de hoje sobre os Emergencistas do Fantástico realmente foi um colírio para os olhos. Os médicos não foram tidos como vilões pela imprensa. E o mais importante, falaram dos emergencistas, valorizaram esses profissionais que trabalham na linha de frente do SUS. Profissionais que fazem das tripas coração, se sujeitam a trabalhar em locais sem qualquer proteção ou equipamentos. Se colocam em risco para atender os pacientes, que são os que mais sofrem.

Confira a reportagem no link: http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2015/10/conheca-rotina-de-medicos-que-trabalham-no-setor-de-emergencia.html

A reportagem foi emocionante. Vi ali que o futuro da Medicina no Brasil talvez ainda tenha salvação. A medicina no Brasil finalmente vai começar a mudar.

Pena que o cenário carioca está MUITO longe de ser o retratado na reportagem, como podem ver no link abaixo, postagem que fiz em agosto aqui no TraumaOne. https://traumaone.wordpress.com/2015/08/23/rio-2016/

Ainda há muito o que digerir sobre os programas de residência médica, comentários precisam ser feitos, mas o que posso ter certeza é que hoje foi um marco.

Um pequeno passo para a Medicina de Emergência no Brasil. Um grande passo para a Medicina Brasileira.

Antes tarde do que nunca!

O dia 16 de setembro de 2015 é um dia histórico para a Medicina Brasileira. Finalmente, depois de muita luta, a Medicina de Emergência foi reconhecida como especialidade médica no Brasil. Estamos atrasados, é verdade, mas, antes tarde do que nunca!

O que antes já era consenso no resto do mundo desenvolvido, hoje passa a ser uma realidade nacional. Não foi com pouca luta. O Professor Herlon Saraiva Martins, Médico Supervisor do Pronto-Socorro do Instituto Central do Hospital das Clínicas da USP e Doutor em Ciências Médicas pela mesma instituição, um dos principais articuladores do movimento não pôde conter sua emoção no Facebook:

Hoje, seguramente, é um dos dias mais emocionantes e mais gratificantes de toda a minha vida.
As lágrimas escorrem, um vídeo se passa do que ocorreu nesses últimos 15-16 anos, lutando por dignidade, respeito e qualidade no atendimento das emergências do Brasil.
Uma profunda sensação de recompensa, de senso de justiça, e que cada sofrimento que nós passamos, cada humilhação, cada menosprezo, assédio no dia a dia, agora tudo isso agora ficou para trás, perdeu sua importância.
Para nós emergencistas, um sonho, uma luta, de quase uma vida, um ideal que parecia impossível, agora é um fato que entrou para a história.
Um senso de dever realizado, uma certeza de que os pacientes serão os maiores beneficiados nos próximos 30 anos.

Muitos outros apoiadores se manifestaram nas redes sociais em grande felicidade devido à esse momento histórico.

Ainda não se tem muitas informações de como o processo de residência médica será realizado, mas deve ser igual aos moldes norte-americanos: 3 ou 4 anos de residência médica. Quais as universidades ou hospitais que abrirão vagas para residência também ainda é dúvida. Mais informações devem ir surgindo nos próximos dias.

A aprovação da Medicina de Emergência como especialidade nos EUA também não foi sem muita luta. O documentário 24/7/365 conta um pouco dessa história. Confira abaixo para se inspirar e ter a certeza de que, em alguns anos, essa será a nossa história:

Rio 2016

22 de Novembro de 1963. O Presidente Kennedy dá entrada no Parkland Memorial Hospital da Universidade de Southwestern com um tiro na cabeça. A história mostra que ele não resiste aos ferimentos, principalmente devido à desorganização das emergências norte-americanas. No final da década de 60, veteranos retornando do Vietnã começaram a falar que tinham melhor tratamento e chance de sobrevivência nas selvas de Saigon do que nas ruas de Detroit. Isso iniciou uma revolução nos EUA com pressão da opinião pública, onde o cuidado com paciente traumatizado e em situação de emergência começou a ser levado a sério.

Em 2015, Parkland Memorial Hospital da Universidade de Southwestern foi totalmente reformado e ganhou uma nova casa como podemos ver no vídeo abaixo.

Enquanto isso no Rio de Janeiro, também em 2015, a Cidade Olímpica de 2016…

Hospital Federal do Andaraí:
http://oglobo.globo.com/rio/justica-condena-uniao-por-problemas-no-hospital-do-andarai-12648969
(Obra que, desde 2012, ainda nem começou, e de novo, é o Hospital de Referência para as Olimpíadas. Piada.)

Hospital Federal de Bonsucesso:
http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2015/05/16/hospital-no-rio-tem-emergencia-funcionando-em-conteineres-ha-quatro-anos.htm
(4 anos de emergência nos conteineres. Outra piada, sem graça.)

Hospital Estadual Rocha Faria
http://blogs.oglobo.globo.com/blog-emergencia/post/com-equipamentos-quebrados-rocha-faria-sofre-com-falta-de-medico-565263.html
(Sem estrutura, como trabalhar?)

Hospital Estadual Getulio Vargas
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/05/funcionarios-do-getulio-vargas-continuam-com-salarios-atrasados.html
(2015, salários atrasados, insumos intermitentes…)

Miguel Couto, Souza Aguiar, Lourenço Jorge, Salgado Filho…
Cansei de procurar de cada um… passe lá e veja por você mesmo.

A “solução” é mandar os turistas da olimpíada para a rede particular?
http://www.blogdogarotinho.com.br/artigo.aspx?id=19143

Porque eu gosto tanto do trauma? Ora bolas, tirando o aspecto médico apaixonante, a adrenalina e tudo mais, uma das coisas que me diverte, eu confesso, é o paciente… Na maioria das vezes ele é aquela pessoa de classe média, com plano de saúde que nunca pisou em um hospital público, vem pelo bombeiro e dá de cara com o Pronto-Socorro, inferno na terra (e por falar em inferno, não vamos nem falar sobre o Hospital da Posse, referência da rodovia Dutra). Fica assustada e quer transferência o mais rápido possível. Aí esbarra no Plano, que demora a transferir, fica P da vida, mas faz todos os exames pelo SUS e vai para casa, horrorizada, porém, viva. E nunca mais pisa no SUS ou quer saber do SUS. Reclama mais do plano, do que das condições de atendimento. Afinal “Saúde pública é assim mesmo”. Isso quando o Sistema não o mata ou a velocidade não foi fatal.

Choque de realidades.

Esse é o país que cediou a copa. Essa é a cidade que cediará as Olimpíadas. Esses são os hospitais que vão cuidar de você se você sofrer um acidente na rua. Ficou assustado? Deveria.
Luciano Hulk e Angélica foram pro SUS. Cristiano Araújo também.

Por que não temos um Parkland Memorial Hospital da Universidade de Southwestern padrão para o SUS? Por que nossos Hospitais Universitários não tem emergência (e se orgulham disso?)?

Eu tenho minhas teorias. Uma delas é porque Deus é brasileiro ou melhor, carioca. Se aqui tivesse desastre, furacão, terremoto, tsunami, terrorismo, bomba, mas bomba mesmo, (tiro, facada e granada são partes integrantes do pacote ser carioca) talvez levassem mais a sério a importância de um atendimento de emergência organizado. E também de um ensino de emergência, né? Ou não né?

Já que ninguém quer que pessoa que vá atender uma emergência médica seja um especialista em emergências médicas. Isso não precisa de especialista, segundo a Sociedade Brasileira de Clínica Médica. O mundo desenvolvido todo diz que precisa, mas o Brasil é diferente. Afinal não somos o mundo todo…
http://www.sbcm.org.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=1691:prioridade-a-medicina-de-urgencia-e-emergencia&catid=84:opiniao&Itemid=135

Ou mudamos, ou vamos continuar receber em um único hospital, já abarrotado de gente, 47 pacientes em menos de 1h, vítimas de uma colisão ônibus x ônibus.
Ou mudamos, ou nas próximas boates que pegarem fogo, continuaremos a bater cabeça e assistir jovens queimados agonizando sem o mínimo de dignidade.
Ou mudamos, ou nas próximas chacinas de Realengo ou Osasco, continuaremos a perder vidas que poderiam ser salvas com o atendimento sistematizado, organizado e rápido, aprendido no Iraque e Afeganistão.

21 de abril de 1985. O presidente Tancredo Neves morre após ser internado no Hospital da Base de Brasília (SUS) e depois transferido para o Hospital das Clínicas de São Paulo (SUS) com complicações diversas de um quadro abdominal agudo. Desde então, ao invés de mudarem o atendimento de emergência no Brasil, nossos governantes procuram o Israelita Albert Einstein para qualquer indisposição.

Em 2015, Hospital Estadual Carlos Chagas:
http://globotv.globo.com/infoglobo/extra-noticias/v/emergencia-do-hospital-estadual-carlos-chagas-funciona-de-forma-caotica/4159145/

O pior do Brasil é o brasileiro.